Um dia, cansada de tudo e todos, a precisar de mudar rotinas fez a mala e partiu.
Recorda esse dia com um sorriso, foi a melhor decisão que tomou na vida.
Conheceu gentes, costumes, cresceu e sentiu-se pequena perante a imensidão do que viu.
Riu, chorou, adaptou-se, e viveu.
Partiu ao desconhecido, levava sonhos e desejo de ser feliz, transformou a vida dela e de outros em algo melhor, foi recompensada em todas as cidades, aldeias, lugarejos que passou.
Não conseguiu parar, continua a viajar, a absorver tudo o que a rodeia, não consegue imaginar o mundo dela de outra forma.
Ela adorava música clássica, ele rock, ela gostava de salmão grelhado, ele de hambúrgueres.
Ela vestia clássico, ele desportivo, ela andava no ginásio, ele corria na rua. Ela gostava de férias na neve, ele no parque de campismo. Ela gostava de azul, ele preto. Não lhes deram mais de um mês como casal.
Não tinham nada em comum, eram o oposto que se completavam. Comemoram 20 anos de casamento.
Hoje a convidada é uma menina com uns contos fantásticos, emociono-me a ler alguns.
O blogue Gesto olhar e sorriso, para além do nome que acho maravilhoso, tem textos que vale a pena ler. O texto de hoje é uma boa amostra da qualidade da escrita da autora, Obrigada Carolina, adorei.
"Por entre a multidão, naquele concerto, um ao outro, destacaram-se como que numa luz infinita. Quando se conheceram houve algo no olhar de ambos que prometera mutuamente: “hei de te conhecer melhor que ninguém, não vais largar mais a minha mão quando eu responder a esse ato de as entrelaçar, a minha na tua.” Perfeito, dito e feito. Tornaram-se unha com carne, amigos inseparáveis, não precisavam expressar palavras para falarem, o silêncio dizia tudo o que era preciso pois os sorrisos e os olhares eram mais especiais que todo o mundo à volta. Secretamente e timidamente amavam-se, mas nenhum deles conversava sobre isso, a ligação que tinham era forte demais para se perder. Corriam pela areia como crianças que confrontam o infinito correndo livremente pela rua. Nos entretantos, entre risos e brincadeiras o beijo aconteceu e das gargalhadas nasceram as lágrimas puras, porque ambos sorriram em silêncio, como neles era tão natural, coisa que só eles sabiam explicar, no entanto era algo que não precisavam de o fazer. Irmãos de sangue, melhores amigos, namorados se tornaram. O sabor cru e diferente de se amarem noutro prisma do amor trazia-lhe uma nova sabedoria, não tão díspar como a de outrora, mas era confuso, bom… Ele amava-a perdidamente, ela tornava-se sexy mesmo desarrumada, cheia de borbulhas ou apenas com a camisola dele vestida, mas quando se vestia para sair conseguia ser ainda mais a mulher mais bonita do mundo. Com todos os seus defeitos, feitio casmurro e teimoso, ele era o melhor namorado do mundo, nunca confiara tanto em alguém como nele, sentia-se protegida e amada nos seus abraços. Como poderia tudo isto mudar? Quando o amor passou a ser demais, a não caber no peito, quando o medo de perder quem se ama agarrava-se à desconfiança. Tinham igualmente medo de se perder mutuamente, discutiam, discordavam, choravam e entrelaçavam-se em abraços, até ao dia em que perceberam que não podiam dar cabo de tudo aquilo que tinham, que a amizade inicial era mais forte que o que mais tarde crescera. Seguiram caminhos diferentes mas prometeram jamais criar distância entre eles, quem os amasse um dia mais tarde tinha de respeitar essa amizade que compreendia todo o amor existente na pele e no corpo. Talvez eles não soubessem que estavam destinados um ao outro, o medo de perder é o primeiro passo para a derrota, a vida sempre desvenda algo que está guardado para ser nosso. Por enquanto amavam-se nessa amizade de irmãos porque não é vergonha continuar a ser-se amigo de um ex-namorado, vergonha é apenas lembrar dos maus momentos quando se foi tão feliz."
Via um rosto cansado, não via a mulher bonita que ainda era, não via os olhos verdes e as pequenas sardas ao redor do nariz. Não via os cabelos longos.
Não via a mulher que era apaixonada e lutadora, que sorria e perdoava com facilidade. A mulher que ainda era menina.
Via só alguém simples sem ambições, via só o que não queria. Procurava a alma, essa não se vê ao espelho.
Começa hoje uma nova rubrica semanal no blogue, o desafio é simples, todas as semanas um convidado conta uma história. Uma história real ou não, um pensamento, um conto, o que quiserem, a ideia é partilharem.
A primeira convidada é uma das minhas bloguers preferidas, faz-me rir muito, e como se constata abaixo tem um lado mais sério, de escritora eu diria , é a famosa da "blogocoisa" Chic'Ana. Obrigada Ana por aceitares o meu desafio.
"Quando cheguei ao 10º ano fiz os testes psicotécnicos para saber mais ou menos que área haveria de seguir. Os resultados foram muito equilibrados, mas havia algo que se destacava no meio das outras: o gosto pela escrita. Na altura, a psicóloga aconselhou-me a escolher um dos outros resultados e dedicar-me à escrita nos tempos livres. Este sonho foi crescendo a cada dia, mas ao mesmo tempo, foi também adiado! Não é fácil conciliar a rotina do dia a dia, primeiro os estudos, a faculdade, depois a vida laboral, não é simples. Seguiu-se o namoro, o casamento, mas houve um dia em que me sentei a escrever, e escrevi umas quantas páginas word num ápice, sem rascunhos, tudo fluía perfeitamente, os meus dedos corriam sobre o teclado… Nomes de personagens, ambientes, espaços, parecia que estava a borbulhar à tanto tempo no meu pensamento, que agora era um simples escrever, era um acto reflexo, não pensado, não ponderado..
E assim abro-vos um pouquinho do meu íntimo, uma janelinha do meu ser:
Prólogo
Sonhei com um barco em alto mar, fustigado por um vento forte, embalado pelas revoltas correntes. Não consigo avistar mais o porto que outrora parecia tão seguro e acolhedor, ao que em tempos, que agora pareciam tão distantes, eu pude chamar de casa. Mas bem no meu interior, sinto uma paz enorme face à situação adversa que me rodeia. Sou impulsionada a desbravar um novo mundo, um mundo cheio de mistérios e desafios, um mundo pelo qual ansiava há muito tempo.
Abro lentamente os olhos, estremunhada pelos raios de sol que castigam levemente a minha retina, sinto um suave salpicar de sal. Mas onde estava eu afinal? Sinto uma onda de terror apoderar-se sobre mim. O que eu pensava ser um sonho era afinal a dura realidade. Olho em meu redor, e só vejo uma imensidão de água, não consigo avistar terra por mais que me esforce, ou em que direcção olhe. O que me levou a tomar uma atitude tão desesperada?"