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Histórias Irreais

São pedaços de vida, são desabafos de uns e outros, são partilha

São pedaços de vida, são desabafos de uns e outros, são partilha

A maluca dos gatos

Era conhecida pela maluca dos gatos. Tinha um sobrinho distante, era praticamente só.

Tinha sete em casa, mas todas as noites dava a volta ao bairro para alimentar muitos mais.

Garrafa de água, caixinha com frango cozido lá ia ela pelos becos, enquanto ia dizendo psiuuu psiuuu.

Eles rodeavam-na comiam, bebiam, ela ainda tinha tempo para umas festas, e só depois ia para casa.

Quando morreu tenho a certeza que os únicos que sentiram a falta foram esses mesmos gatos, os de casa e os do bairro.

A "maluca" dos gatos que de maluca nada tinha, dedicou-lhes a vida inteira, sei que o tempo que cuidou destes animais, eles eram felizes.

E se algo merece recompensa é proporcionar felicidade. Bom descanso.

 

 

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Intacto

Todos os dias faça chuva ou sol está na porta da Igreja, sentado no chão ou abrigado debaixo dos portais.

Dizem que em tempos foi um homem bonito, agora não se percebe, sujo, confuso e agressivo, poucos se aproximam.

O que o destaca de outros é o seu cão, a única vez que a voz dele sai quase meiga é quando fala com o Urso.

Perco-me a imaginar os porquês da vida, da vida deste homem que chegou ao fundo, tão fundo que é difícil imaginar um regresso, mas o amor por aquele animal é algo que comove, vejo-o a dar comer ao Urso do pouco que consegue, pois a agressividade afasta quem tem boas intenções.

Ao contrário do que seria"normal" o cão está limpo e parece saudável.

 

É alguém que já nada tem, tudo perdeu, no entanto o amor por um animal continua intacto.

 

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Por amor

Histórias (Ir)reais

 

Maria tinha 27 anos um casamento feliz e 4 filhos, trabalhadora e muito querida por todos que a rodeavam, quando ficou viúva logo após o filho mais novo nascer.

A vida dera uma volta enorme, ficava sozinha e com 4 crianças para cuidar, sem grandes ajudas Maria teve de se reinventar de muitas formas.

Tinha uma rotina diária que nunca interrompia, levantava-se ás seis da manha, para cuidar da casa, da roupa, da comida, das crianças e ir trabalhar.

Trabalhava numa fábrica das 9h ás 18h todos os dias durante 40 anos assim foi.

Criou os filhos com todos os sacrifícios pessoais, sempre sozinha, nunca mais arranjou marido, ou sequer outro homem entrou na sua vida.

Os filhos estudaram, dois são advogados, uma filha iniciou um negócio de sucesso de venda de comida e outro foi trabalhar numa grande empresa.

Com os filhos criados e cada um na sua casa, com a vida realizada, e já com idade para se reformar e descansar, assim o fez.

Mas mais uma vez a vida deu uma volta, estava reformada não tinha 2 meses quando numa consulta de rotina foi detectada uma doença, maldita doença.

Depois de muitos exames e consultas,  já exausta a precisar cada vez mais de cuidados diários, sem querer dar trabalho aos filhos pediu para a internarem.

Os filhos cada um com a sua vida, esquecendo toda a vida que a mãe e só a mãe lhes dera, assim o fizeram.

Vive agora num lar, apesar da doença não ter cura, todos os dias a vence um bocadinho, todos os dias luta, e todos os dias vive a dar, amor, carinho e atenção a todos os outros utentes.

Os filhos visitam-na quando podem, ou querem, mas Maria recebe-os sempre com todo o amor de mãe, nunca cobrando algo a que tinha direito.

Maria é uma das muitas Marias que existem por esse mundo fora, uma mulher de coragem, forte que teve como principio de vida o amor, e por amor continua a viver.

 

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Menino de rua

Histórias (Ir)reais

 

 

Costuma andar pelas ruas do bairro, limpo e educado, sempre a pedir uns trocos a quem vê pelo caminho

Tem 5 irmãos mais pequenos, mãe invalida e pai em parte incerta.

É o homem da casa como ele diz, os irmãos raramente são vistos, para menino de rua basta ele.

Com 10 anos, esperto, sorriso fácil é um menino sem infância, que teve de crescer.

 

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Na paragem

Histórias (Ir)reais

 

A dona Emília tem já 70 anos, mas é pequena e magra, andar ligeiro e toda desembaraçada.

Senta-se ao pé de mim na paragem do autocarro, refilava que estava muito frio e não estava bem agasalhada.

Conheço-a do bairro mas nunca tinha conversado com ela e  meti conversa.

 

Ela conta-me que o pai morreu cedo, era a 7ª filha a mãe sem condições os irmãos foram todos separados.

Ela aos 18 anos quando saiu de uma instituição, começou a trabalhar em casa de uma senhora, esteve lá muitos anos, eram bons para ela.

Quando a patroa morreu veio embora, o patrão já de idade foi para casa de um dos filhos viver, e ela ficou desamparada novamente. A partir daí viveu sempre em situações precárias.

 

Recebe uma pensão mínima de velhice, vive de caridade num anexo onde chove como na rua, deixou de ir ao médico, pois não pode pagar os medicamentos, não tem ninguém.

O autocarro chegou, era o dela, despediu-se com um até logo menina e foi, fiquei ali a olhar até desaparecer da vista.

 

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Sozinho

 Histórias (Ir)reais

 

Senta-se no mesmo banco sozinho há anos, rosto marcado, olhar sincero e  sempre uma palavra amiga.

Falo com ele sempre um pouco quando o encontro, sei a história de vida deste homem, mas mesmo assim sempre que estamos juntos, aprendo um pouco mais.

 

Nunca casou, cuidou da mãe toda a vida adulta, até há uns 10 anos ela falecer, já “velho” como ele diz, tem 60 anos não se imagina a ter alguém com ele. Teve um grande amor na juventude, mas fugiu-lhe quando se apercebeu que ele nunca abandonaria a mãe.

 

Conhece toda a gente, conversa no café, nas compras, por onde passa pelo bairro e gosta de viver assim, no velho prédio com azulejos azuis, varandas corroídas pelo tempo, casa enorme, das antigas e ele lá sozinho.

 

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Dança apaixonada

No jardim, perdida em pensamentos, reparo num casal idoso num carro estacionado.

Abrem os vidros e oiço a música LOVE , eles cantarolavam a sorrir.

Ele sai do carro, abre a porta dela, dá-lhe a mão, ajuda-a a sair do carro, andam uns passos para o lado e abraçados entre olhares de amor, sempre a cantarolar, dão uns passos de dança.

 

Fiquei ali, a ver a felicidade dançar.

 

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